Associado aposentado lança livro que analisa as canções de Chico Buarque

Por Elizeu Junior
Sociocultural
23 de março de 2021

Obra “Chico com Todas as Letras” traz o contexto histórico das músicas do artista

Na próxima quarta-feira, 24 de março, o associado Dimas Lamounier lança seu primeiro intitulado “Chico com todas as letras”. A obra, produzida a partir de anos de pesquisas, é uma análise temática de assuntos abordados nas canções de Chico Buarque a partir de 1966. O lançamento do livro, produzido pela Editora Ramalhete, acontecerá de forma virtual às 19h30 através de uma live na página Chico Buarque do Brasil no Instagram.

O projeto é uma realização pessoal do agora aposentado Dimas, que desde jovem já admirava as canções de Chico. Na obra, o escritor apresenta o contexto cultural da época em que as músicas foram criadas e ainda expressa sua visão sobre a influência que terceiros tiveram na vida do músico, chegando assim em suas letras. Carnaval, futebol e a época da censura também são assuntos abordados. A ideia é que o livro funcione também como uma forma de auxiliar o leitor a compreender toda a dimensão das canções de Chico. Para Dimas, as letras do artista são de uma profundidade sem igual e precisam ser degustadas.


Dimas Lamonier


Com 63 anos e natural de Dores do Indaiá/MG, Dimas ingressou na Caixa ainda jovem, com seus 20 anos em 1978, tendo se aposentado em 2012. O projeto do livro era um sonho antigo e há dez anos vinha sendo estruturado, mas foi nos últimos três anos que as coisas ganharam forma e enfim saiu do papel.


Confira na íntegra o bate papo que tivemos com Dimas Lamounier:

1- O que é contado no livro?

No livro eu analiso várias músicas do Chico dentro de alguns temas predefinidos. Por exemplo, eu falo muito sobre as mulheres na vida do Chico, já que mais 30 mulheres citadas em suas canções. Eu analiso as mulheres dos anos 60, 70, qual era o indicativo das músicas, o comportamento dessas mulheres e o que acontecia naquele momento no Brasil e no mundo. Outro exemplo: as músicas do final dos anos 60 já indicavam a emancipação e o empoderamento das mulheres e isso é descrito nas letras do Chico. É uma analogia do tema mulher de acordo com o tempo que se passa. A mesma coisa acontece no caso das musicas que têm como tema central os homens. Eu coloco também o Carnaval como um tema importantíssimo nas músicas do Chico. Várias falam do Carnaval e da mudança comportamental dos personagens desde o começo com a música chamada Sonho de um Carnaval. Outra questão importante, e que o povo gosta, é o futebol. Além de jogar futebol, Chico faz muitas músicas sobre o tema e acompanha ao longo do tempo as mudanças. Tem também a abordagem sobre músicas de protesto, nas quais o Chico tem muitas. Desde os tempos dos festivais ele sempre foi muito determinado e culto. Sobre a época da censura, a obra relata que ele precisou criar codinomes para fazer com que as músicas passassem pela ditadura, pois chegou um ponto em que todas suas músicas eram proibidas, bastavam ser do Chico. Ele deixou uma vasta lista de músicas de protestos e foi um calo duro para enfrentar a ditadura no Brasil. A própria questão da geografia na música do Chico também abordo. Ele começou com atuações focadas apenas no cotidiano, e com o passar do tempo, com sua maturidade e seus estudos, ele passou a trabalhar questões das cidades, vilas, aglomerados e foi fazendo músicas mais expansivas, expandindo seus conhecimentos sobre Brasil, América Latina e o mundo, criando uma aceitação mundial, pois ele canta em português, francês, italiano e espanhol. Tudo isso é contado, além da parte das músicas mais românticas. O livro trata as músicas de acordo com a sua temporaneidade.


2- Quando surgiu a ideia de escrever um livro sobre Chico Buarque?

Há muito tempo, eu nem sei precisar. Eu sempre guardava materiais de jornais, revistas, fitas cassetes, entrevistas, anotações pessoais, ingressos, ou seja, tudo o que podia servir de acervo eu fazia. Eu tinha um caderno só para anotar coisas que eu achava interessante nas músicas, determinadas falas e alguns posicionamentos do Chico. É muito material que eu estudei e então pensei em transformar tudo isso em um documento, um livro, mas sempre eu não tinha tempo, na Caixa a gente trabalha demais (risos). Até que agora, depois de aposentado, eu consegui fazer tudo isso e saiu esse livro que espero que todos gostem.


3- Como foi o processo de criação?

Depois de todo esse material eu comecei a sistematizar e trabalhar de uma maneira didática para que as pessoas tivessem facilidade de ler, para atender desde o público de fãs do Chico até pessoas que o conhecem pouco. Eu trabalhei essa questão temática e cada capítulo tem um tema. São temas variados, pois o Chico não tem só canções, ele tem muitos livros escritos, participou como ator e diretor de vários filmes, participou ainda de peças de teatro, ou seja, ele é um cara muito completo e tem muitas coisas para abordar. Então dentro dos temas eu trabalhei o que eu tinha de material e fui desenvolvendo. Depois que eu terminei a primeira versão, procurei pessoas que trabalham com elaboração de livros e fomos aprimorando.

Já na parte final tivemos a capa que foi um desenho a lápis feito por uma pessoa de São Paulo que gentilmente me cedeu, e eu também palpitei para que no rosto aparecesse letras das músicas, já que o livro chama Chico com todas as Letras. Era um objetivo que eu tinha, de colocar todas as letras das músicas analisadas. Quem não conhecia a letra da música poderia ouvir e com o livro vão conseguir entender. Nós também trabalhamos a questão das imagens, com desenhos feitos pelo jornalista e cartunista Romulo Garcias. É uma coisa nova e interessante que ajudou o livro a ficar mais leve e divertido.


4- O que você espera levar ao leitor através do livro?

Em muitos pontos eu reconto a história do Brasil, pois existem as histórias oficiais e as que não saem nos jornais. O Chico é um gênio e contribuiu muito para o desenvolvimento crítico das pessoas, estimulando para que elas cada vez mais buscassem o autoconhecimento, principalmente através das artes e cultura. O Chico deixou uma gama muito grande de livros e peças de teatros, ele não se curvou diante da ditadura militar, foi valente, teve que ir para Europa no autoexílio e depois voltou. Ficou muito tempo sem que nenhuma editora quisesse gravá-lo e era como se fosse um castigo, já que ele era visto como um crítico do regime militar. Chico foi sempre foi a favor da democracia, da justiça social e dos mais pobres, tanto que ele coloca isso em muitas de suas músicas. E ele continua com a cabeça erguida, a espinha ereta e produzindo. Sempre teve um lado muito assertivo das coisas, e é isso que eu quero levar para os leitores, uma pessoa que contribuiu, foi perseguida, mas hoje está bem, está aí vivo entre nós e espero que dure muito tempo.

Departamento de Comunicação da APCEF/MG

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